Como conheci Guilherme Longo, que confessou ter matado Joaquim

  • 16:31
  • 30 abril 2017

  • No dia 05 de novembro de 2013, eu estava na redação do Jornal A Cidade, quando recebi a informação de que um menino havia desaparecido no Jardim Independência. O nome da criança era Joaquim Ponte Marques, 3 anos, dono de um olhar e um sorriso lindos.
    Eu e o fotografo Firmino L. Piton fomos os primeiros a chegar no local. A maioria da imprensa iria começar a falar sobre o caso quatro horas depois.
    Na casa simples, encontramos  dois policiais militares, Guilherme, Natália Ponte e o bebê do casal.
    Natália estava apática, conversava pouco e eu a achei calma demais. Como mãe, eu estaria gritando o nome do meu filho e correndo de um lado para outro desesperada, mas não fiz juízo de valor porque cada um reage de uma maneira as tragédias da vida.
    Guilherme chamou a atenção pela sua solicitude. Recebeu os dois repórteres educadamente e eu pedi para que ele nos fornecesse uma foto de Joaquim. Ele ligou o computador, mostrou as imagens e enviou uma delas para o jornal, para que pudéssemos divulgar que o menino estava desaparecido e quem sabe obter alguma informação sobre o paradeiro dele.


    Em pouco tempo chegaram os pais de Guilherme e de Natália. A mãe dela estava inconsolável. Era a pessoa que tinha a reação mais lógica diante do desaparecimento.

    Casa
    A casa estava em ordem e eu cheguei a procurar o menino debaixo da cama. No banheiro encontrei uma calça dele e lençóis sujos de xixi.
    Conforme o tempo passava, outros policiais militares chegaram e começaram a pressionar Guilherme. Eles já sabiam que o rapaz tinha envolvimento com drogas. Aliás, Natália conheceu e se apaixonou por ele durante um tratamento de reabilitação. Ela era psicóloga dele.
    Ele contou que havia saído para buscar drogas e salientou que o menino talvez tivesse ido atrás dele. Mas como? A família encontrou a porta da sala destrancada, mas as grades de entrada da casa estavam fechadas com cadeados. Elas têm lanças nas pontas e seria bastante difícil a criança pular o alambrado.
    Piton sugeriu que os policiais buscassem os cães farejadores para tentar uma pista do garoto. Eles disseram que não era possível. A sugestão do meu amigo foi atendida dias depois e foram localizados vestígios de que o garoto havia sido jogado no rio.


    Durante toda a manhã, Guilherme e Natália permaneceram unidos. Eles foram levados até o córrego, onde o menino poderia ter sido jogado ou caído, e ficaram o tempo todo dentro da viatura policial.
    A mãe de Guilherme, uma senhora educada e gentil, alertou o policial que comandava a equipe de buscas pelo rio que o filho era inocente e que a criança poderia ter sido sequestrada. Ele a olhou bem nos olhos e disse: "Seu filho sabe onde está o menino. Fale para ele contar". Ela apenas chorou.
    Foi uma manhã impressionante e voltando no tempo eu me lembro dos olhos de Guilherme Ponte: calmos e límpidos, como se nada tivesse a esconder. Olhar que ao mesmo tempo alertava: ninguém pode ter essa passividade diante do desaparecimento de uma criança.
    O tempo passou e muita coisa mudou. Sai do jornal, passei no concurso, ele foi preso, foi solto, confessou para uma produtora da Record o crime, fugiu, foi preso na Espanha. Tenho apenas uma certeza: Joaquim amava Natália, Guilherme e todos que passaram pela vida dele.
    Quanto a Guilherme e Natália prefiro guardar para mim, os sentimentos que tenho em relação a eles. Que a Justiça seja feita.

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